sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Al Simhara

Quando me dei conta, minhas férias de julho chegaram e viajei para o Egito com Eva. A única hospedagem que conseguimos foi em um acampamento, em meio a cientistas, arqueólogos e aventureiros. Por sorte, minha amiga apesar de doidivanas curte uma vida selvagem. Ao invés de se preocupar com o desconforto de dormir em barraca e cozinhar a céu aberto, fez amizade com um arqueólogo chinês, logo ao chegarmos. Eles se entenderam muito bem sem a minha interferência. Através dele descobrimos sobre um anúncio da Morcucorp, no quadro de avisos do acampamento.

Li o cartaz com atenção, eles procuravam alguém disposto a encontrar algumas relíquias pelas ruínas espalhadas no deserto. Eva sugeriu que eu ofertasse meus serviços. Afinal, além de ter alguma experiência no assunto, poderia infiltrar-me na organização sutilmente e saber o porquê de estarem em busca das tais relíquias. Concordei com ela, era uma oportunidade única de investigar e talvez até mesmo atrapalhar o plano dos vilões.

Enquanto minha amiga se dirigia ao centro comercial da vila, com a intenção de conhecer os moradores, eu me encontrei com o contato da organização. Fiquei surpreso ao me deparar com uma mulher local, perguntei-me internamente se ela tinha total conhecimento das falcatruas dos seus empregadores. Ouvi sua explicação detalhada da minha missão inicial. Tive certeza de ser apenas um teste: Quem esquece um dossiê em uma tumba já descoberta e precisa de outra pessoa para buscar?

A tumba ficava colada ao nosso acampamento, desci as escadas e havia um cenário digno das melhores casas de horrores e até inscrições antigas em hieróglifos. O teste era ridículo, apenas um péssimo observador não conseguiria encontrar as óbvias pistas para chegar ao dossiê “esquecido” dentro de uma arca. Ao encontrá-lo, não me detive a abrir o envelope, e tudo o que havia dentro era uma pasta vazia.


sábado, 17 de novembro de 2012

Desafio

De volta a minha cidade natal, procurei meu melhor amigo antes de qualquer coisa, precisava de alguém para desabafar. Encontrei com o Will no bar do Eugi, ele me ouviu com atenção e como um bom amigo encheu meu copo durante toda a noite. Normalmente eu recusaria, desta vez tomei tudo sem discussão. Ao final, ele me carregou para casa e se encarregou da minha moto. Naquela noite eu entorpeci meus sentidos e esqueci a dor.

Eva me ligou no dia seguinte e praticamente me obrigou a visitá-la após as aulas. Quando cheguei, ela não me perguntou nada, me conduziu ao sofá, deitou minha cabeça em seu colo e sussurrou palavras de carinho. Exatamente como fazíamos na solidão do orfanato e desejávamos ter nossos pais para acariciar nossos cabelos. Somos adultos agora, assim o carinho evoluiu para algo mais e partilhamos um abraço entre dois amigos procurando esquecer suas dores no prazer do contato íntimo.

O primeiro mês se arrastou, vaguei pelos bares e clubes de Bridge tentando voltar aos poucos ao cara despreocupado e aberto para as belezas e alegrias da vida. Nas primeiras vezes a bebida se tornou uma companheira amarga. Aos poucos a deixei de lado e me abri para companhias mais doces. Recuperando o meu humor e fazendo o meu melhor para sanar a minha dor.

Logo estava sonhando de novo com a minha deusa ruiva e desejando apagar de vez qualquer amargor restante com a mulher perfeita para os meus braços. Havia passado algumas semanas desde nosso último encontro e liguei ansioso como uma criança no dia de Natal pelo seu presente. Lana como sempre parecia entusiasmada a me encontrar. Neste reencontro tive a certeza de estar pronto para encarar o desafio de viver sem o meu amor.

Mais uma vez expresso minha gratidão a P@h pela foto da Lana.


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Fim do Idílio

No meu último dia em Shang Simla, meu novo mestre trouxe um lutador para treinarmos. Um teste para descobrirmos se eu já estava pronto a me aventurar no grande circuito. Venci a luta tão facilmente que o rapaz ficou entusiasmado com minha capacidade e me cumprimentou diversas vezes pelo meu êxito. Shang expressou seu contentamento e disse não esperar menos de mim, quando eu retornasse à Vila treinaríamos juntos até o início do circuito, no ano seguinte.

Estava decidido a não me afastar de Mei até a hora do táxi me buscar. Após o treino, almoçamos todos juntos em sua casa e os visitantes se retiraram logo depois da deliciosa refeição. Mal dei tempo para a porta se fechar e a agarrei de encontro ao meu peito. Nossos corpos se encaixaram perfeitamente e demos vazão aos nossos desejos retirando nossas roupas desajeitadamente, sem rompermos o contato.

Passei toda a tarde tentando decorar cada detalhe da minha amada. Fotografei sua nudez com meus olhos, vivifiquei seu sabor com a minha língua, acariciei sua pele com a minha e digitalizei a sua textura. Marquei o aroma de seu corpo com meu olfato apurado, gravei seus murmúrios e gemidos em meu canal auditivo. Apreciei e rememorei a plenitude de minha amada em nossos momentos mais íntimos de paixão e desejo.

Eu não queria afastar-me e expressei isso em uma frase impulsiva:

 – Vem morar comigo em Bridgeport! – percebi seu olhar de questionamento e completei – Sei que não pode ir comigo hoje, mas em um mês ou dois poderia arrumar suas coisas e vir para morarmos juntos. Quem sabe abrir um centro de meditação na cidade? Com certeza teria muita gente estressada querendo aprender suas técnicas.

Ela se levantou assustada e disse:

 – Você não pode estar falando sério, né? Ainda é muito cedo para tomarmos qualquer decisão nesse sentido, vamos primeiro nos conhecer um pouco mais. Quando voltar aqui teremos amadurecido nossos sentimentos para aos poucos decidirmos se queremos realmente estar juntos e tentarmos descobrir uma forma que agrade aos dois.

Eu normalmente não sairia do sério, mas sou um homem loucamente apaixonado, e seu discurso demonstrou que nossos sentimentos não estão em pé de igualdade. Afetou-me drasticamente, nunca estive tão irado como naquele momento, e realmente não lembro das palavras duras lançadas a ela. As quais me arrependi tarde demais, ao relembrar seu olhar de horror e desprezo pelo meu momento de fúria. Mei não me amava o suficiente para me seguir, nem dormir e acordar todas as noites ao meu lado, como naqueles dias de idílio.

A dor era profunda em meu coração, mas antes de colocar qualquer roupa e sair de sua casa, a imprensei na parede roubando-lhe um último e devastador beijo. Guardaria aquele sabor para sempre em minha memória, o sabor do amor perdido e destruído. Queria que ela sentisse a minha perda, revogasse sua sentença e fosse comigo naquela mesma noite para Bridge. Obtive apenas um olhar tenso e ingrato. Coloquei minhas roupas rapidamente e com minha mochila nas costas saí de lá derrotado. Perdido de amor...


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Um Novo Mestre

Shang Li é um primo distante de Mei, além de seu Mestre. Ele conquistou o título de campeão do Circuito de Lutas com apenas dezesseis anos e manteve-se invicto por cinco anos consecutivos. Nos últimos anos se dedicou a meditação transcendental e ao seu sucesso como poeta. Explicaram-me sobre as noites de vigília toda sexta, as quais estou convidado a participar em meu próximo retorno a cidade. Ele ficou para o jantar e me aceitou como discípulo. Aprenderei realmente como lutar e vencer o Grande Circuito.

Naqueles poucos dias em Shang Simla, melhorei meu condicionamento físico e flexibilidade sob o escrutínio do meu novo Mestre. Ele me ensinou tudo o que era possível em tão pouco tempo, talvez até mais do que imaginamos a princípio. Passamos todos os dias seguintes em treinamento. Fiquei feliz por Shang estar disposto a agradar a prima e passar o seu conhecimento para um estrangeiro. Ele é apenas dois anos mais velho que eu e extremamente sábio para alguém tão jovem.

Meu tempo com minha amada ficou reduzido aos finais de tarde e a noite. Visitávamos os lugares mais próximos da Cidade Proibida, para não nos distanciarmos de sua casa. Nosso ponto preferido era o Dojo, não só pelo nosso gosto pelo tatame, mas também por ser o melhor local de observação do pôr do sol, na parte baixa da vila. Voltávamos depois do belo espetáculo da natureza e preparávamos o jantar na expectativa do restante da noite, quando finalmente estamos a sós.

Com Mei aprendi a apreciar cada detalhe do seu corpo firme e alvo, de seus lábios rubros com meus beijos, dos seus olhos brilhantes de esperança e anseio, de suas longas madeixas negras acariciando minha pele como seda. Todos estes detalhes estão além da minha possibilidade de descrição e obviamente demonstra minha incapacidade poética. Contudo o mais relevante não era o prazer do nosso amor ou o acordar despertado para o prazer e sim o prazer de dormir acomodado de encontro a minha amada.